Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: Capítulo 8

Página 130

O quarto estava horrivelmente frio, o que indicava que o fogão se mantivera apagado todo o dia. Júlia «economizava» sempre' gás, se se encontrava só. Ele olhou as longas e estreitas costas, quando se inclinou. O cabelo apresentava-se cada vez mais grisalho. Se continuasse assim, ficaria com a cabeça grisalha tout court.

- Gostas do chá forte, não é? - murmurou ela, debruçando-se sobre a lata, com movimentos ternos e lentos.

Gordon ingeriu a bebida de pé, o olhar fixo no calendário de madeira de vidoeiro. Despacha-te! Desembucha! No entanto, a coragem quase se esvaíra. Repugnava-lhe ter de cravar a irmã. A quanto montaria o dinheiro que ela lhe «emprestara» ao longo dos anos?

- Escuta, Júlia... Custa-me ter de te pedir, mas...

- Sim? - encorajou ela, perfeitamente ciente do que se seguiria.

- Desculpa, lamento imenso, mas... podes emprestar-me cinco xelins?

- Julgo que sim.

Foi procurar a pequena. e usada bolsa preta oculta no fundo da gaveta da roupa branca.

Ele adivinhava o que a irmã pensava. Disporia de menos cinco xelins para prendas de Natal. Era o grande' acontecimento da sua vida actual: o Natal e as prendas que oferecia - ter' de percorrer as ruas profusamente iluminadas, tarde, depois de o salão de chá encerrar, de uma secção de saldos para outra, à procura das insignificâncias tão apreciadas pelas mulheres. Embalagem de lenços de bolso, corta-papéis, chaleiras, estojos de manicura, calendários de vidoeiro com dizeres em pirogravura. Durante todo o ano, ela economizava migalhas do parco salário para' a «prenda de Natal de Fulano». Em obediência a esse hábito, oferecera a Gordon, no Natal anterior, os Poemas Escolhidos de John Drinkwater, num volume encadernado, que ele depois vendera por meia coroa. Pobre Júlia! Gordon retirou-se com os seus cinco xelins logo que considerou decentemente aceitável. Por que será que uma pessoa não consegue pedir emprestado a um amigo rico e não hesita em fazê-lo a um familiar quase faminto? Mas é claro que os familiares «não contam».

<< Página Anterior

pág. 130 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Vil Metal
Páginas: 257
Página atual: 130

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 2
Capítulo 3 22
Capítulo 4 38
Capítulo 5 66
Capítulo 6 85
Capítulo 7 109
Capítulo 8 129
Capítulo 9 159
Capítulo 10 185
Capítulo 11 212
Capítulo 12 231
Capítulo 13 251