cavalheiresca reservada aos novos clientes, repetindo a fórmula usual:
- Boa tarde'. Em que o posso servir? Procura algum livro em particular?
- Não, ná' disso. - Um comilão de sílabas. - Posso dá' uma olhadela. Não fui 'paz de resistir à atraente 'tra. Tenho um fraco i'sistível pelas livrarias! Portanto, 'solvi espreitar!
«E se fosses espreitar para outro lado?», reflectiu Gordon, que, no entanto, exibiu o sorriso culto de um amante de livros para outro.
- Espreite à sua vontade. Gostamos que as pessoas entrem para dar uma olhadela. Interessa-se pela poesia, porventura?
- Com 'teza! Adoro-a!
Com certeza! Cabotino de uma figa! Havia um aspecto subartístico na sua indumentária. Gordon extraiu um «magro» volume' vermelho da secção de poesia e informou:
- Isto saiu recentemente e creio que lhe interessará. Trata-se de traduções de vários autores búlgaros. Uma obra algo invulgar.
Uma explicação muito subtil. Agora, ele que se desembaraçasse. Era a maneira mais apropriada de lidar com os clientes. Nada de os apressar - deixá-los ver e folhear durante uns vinte minutos, até que se' envergonhavam e compravam qualquer coisa. Gordon moveu-se na direcção da porta, discretamente, para se afastar do caminho do rapaz, mas com naturalidade, uma mão afundada na algibeira e ar despreocupado próprio de um cavalheiro.
Lá fora, a rua encharcada tinha um aspecto cinzento e inóspito. De algures para além da esquina, soaram cascos, um ruído frio e oco. Arrastadas pelo vento, colunas negras de fumo das chaminés contorciam-se rolavam pelos telhados inclinados. Ah!...
Vivamente, o vento ameaçador varre
Os flexíveis choupos, recém-despidos,
E os tubos escuros das chaminés
Expelem para baixo ar muito turvo (qualquer coisa como «negro»).
Óptimo. Mas o impulso extinguiu-se. O seu olhar voltou a fixar-se nos cartazes publicitários do outro lado da rua.
Quase lhe davam vontade de rir, de tão débeis, mortos-vivos, pouco apetitosos que eram. Como se Alguém pudesse deixar-se tentar por aquilo! Como súcubos com traseiros