Num impulso súbito, tirou-lhe o ridículo chapéu, e os três cabelos brancos isolados salientaram-se na coroa dela. Naquele momento, Gordon não desejava que desaparecessem.
Faziam parte dela e eram, por conseguinte, adoráveis.
- Que divertido estar aqui só contigo! Sinto-me tão contente por termos vindo!
- E pensar que dispomos de todo o dia! Ainda bem que não chove. Tivemos tanta sorte!
- Sim. Celebraremos um sacrifício aos deuses imortais.
Estavam extraordinariamente contentes. Enquanto prosseguiam em frente, experimentavam um entusiasmo absurdo por tudo: uma pena de gaio que apanharam, azul como lápis-lazúli; um charco de água estagnada como um espelho de metal fundido, com ramagens reflectidas nas suas profundezas: os fungos que brotavam das árvores como orelhas horizontais monstruosas. Discutiram durante' longos minutos qual seria o melhor epíteto para designar uma faia e acabaram por concordar que essas árvores parecem mais criaturas sencientes que as outras. É por causa da suavidade da casca e da curiosa forma como os rebentos irrompem do tronco, quais membros nodosos. Gordon disse que os pequenos botões na casca lembravam os bicos de seios e os ramos sinuosos superiores, com a sua pele quase aveludada, trombas de elefantes. Trocaram impressões sobre imagens e metáforas. De vez em quando, discutiam acaloradamente, como era seu hábito. Gordon começou a provocá-la, encontrando imagens para tudo o que se lhes deparava. Alegava que a folhagem castanho-avermelhada dos choupos brancos se assemelhava ao cabelo das donzelas de Burne-Jones e os tentáculos lisos da trepadeira que rodeava uma árvore os braços pendentes das heroínas de Dickens. Em dada altura, insistiu em destruir uns cogumelos venenosos amarelados, porque lhe recordavam uma ilustração de Rackham e suspeitava de que bailavam fadas à sua volta. Rosemary chamou-lhe porco empedernido e avançou por entre um tapete de folhas de faia que' lhe alcançava os tornozelos, leve como um mar vermelho-dourado.