Assim, passaram a falar com mais facilidade e, a pouco e pouco, foram-se aproximando um do outro, até que Rosemary pegou no braço de Gordon. Por fim, deteve-o e fê-lo voltar para que a encarasse.
- Por que me tratas assim?
- Como te trato?
- Tanto tempo sem me dirigires uma única palavra!
- Bem...
- Ainda estás zangado por causa daquilo que aconteceu?
- Não me zanguei contigo. A culpa não foi tua.
Olhou-o, tentando adivinhar-lhe a expressão do rosto na escuridão quase total. Ele puxou-a para si, como ela parecia esperar, segurando-lhe o queixo e beijou-a. Rosemary colou-se-lhe, e os corpos quase se fundiram um no outro. Dava a impressão de que ansiava por aquilo.
- Amas-me, não é verdade?
- Com certeza.
- As coisas correram mal. Não o pude evitar. Assustei-me repentinamente.
- Não tem importância. Para outra vez correrão melhor.
Apoiava-se nele, quase inerte, a cabeça pousada no peito. Gordon sentia-lhe palpitar o coração. Parecia agitar-se violentamente, como se ela tentasse tomar uma decisão.
- É-me indiferente - articulou quase indistintamente, mantendo o rosto afundado no peito dele.
- É-te indiferente o quê?
- O bebé. Vou correr o risco. Podes fazer-me o que quiseres.
Ante as palavras de rendição, Gordon notou uma ponta de desejo, que no entanto se extinguiu com prontidão. Sabia por que ela falava assim. Não era porque lhe apetecesse fazer amor naquele momento, mas em obediência a um mero impulso generoso para lhe dar a entender que o amava e' preferia correr um risco temível a desapontá-lo.
- Agora? - perguntou, num murmúrio.
- Se quiseres.
Ponderou a situação. Ansiava tanto por se certificar de que ela lhe pertencia! Mas o ar frio da noite envolvia-os com intensidade crescente. A relva devia estar agora mais húmida e quase glacial. Não era o momento apropriado, nem, sobretudo, o local. De resto, a questão dos oito pence monopolizava-lhe' o pensamento. Já não lhe apetecia.
- Não posso - acabou por declarar.
- Não podes? Mas eu julgava que...