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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 156
Tornou a evocar as horas daquela manhã: as estradas desertas envoltas na neblina, a sensação de liberdade e aventura, de dispor de todo o dia e todo o campo para vaguear à sua vontade. A semieuforia devera-se ao dinheiro, evidentemente. Naquela manhã, tinha sete xelins e onze' pence na algibeira. Constituíra uma breve vitória sobre o deus-dinheiro; uma apostasia matinal, um feriado nas matas de Ashtaroth. Mas essas coisas nunca perduram. O dinheiro desaparece e a liberdade com ele. Circuncidai os prepúcios, disse o Senhor. E voltamos a rastejar, com receio de erguer a cabeça.

Passou nova correnteza de carros. Despertou-lhe a atenção um em particular, um modelo alongado, admirável como uma andorinha, todo reluzente azul e prateado, que decerto não custara menos de mil libras. Sentava-se ao volante um motorista de uniforme azul-escuro, empertigado, imóvel, como uma estátua altiva. No interior da retaguarda, iluminado por um clarão rosado, encontravam-se jovens elegantes - dois rapazes e duas raparigas que fumavam e riam.

Gordon teve um vislumbre de rostos saudáveis e despreocupados, evidenciados pelo clarão íntimo peculiar que nunca pode ser simulado - o brilho suave e quente do dinheiro.

Atravessou finalmente a rua. Não haveria comida, naquela noite. Mas ainda restava petróleo na lamparina, graças a Deus, pelo que poderia tomar uma chávena de chá clandestina, quando chegasse ao quarto. Naquele momento, viu-se e à sua vida sem disfarces salvadores. Era a mesma coisa todas as noites - regresso ao' quarto solitário, frio e tenebroso, com folhas dispersas de um poema que não avançava. No fundo, constituía um beco sem saída. Nunca terminaria Prazeres Londrinos, nunca casaria com Rosemary e nunca estabeleceria um mínimo de ordem na sua vida. Limitar-se-ia a singrar e afundar-se, singrar e afundar-se, como os outros membros da sua família; mas, pior do que eles, cada vez mergulhava mais num submundo medonho que ainda só conseguia imaginar vagamente. Fora o caminho que escolhera, quando declarara guerra ao dinheiro. Serve o deus-dinheiro ou afunda-te - não havia outra regra.

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Capa do livro O Vil Metal
Páginas: 257
Página atual: 156

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 2
Capítulo 3 22
Capítulo 4 38
Capítulo 5 66
Capítulo 6 85
Capítulo 7 109
Capítulo 8 129
Capítulo 9 159
Capítulo 10 185
Capítulo 11 212
Capítulo 12 231
Capítulo 13 251