- Ah, parlei vus franceis? - guinchou uma das raparigas.
Gordon achava-se levemente divertido. Reflectia que aquilo faria bem a Ravelston. Um socialista de salão que levava uma prostituta para casa! O primeiro acto genuinamente proletário da sua vida. Como que consciente das suas reflexões, o editor encolhia-se no seu canto, imerso em silencioso desconforto, tão afastado de Bárbara quanto possível. O táxi parou à entrada de um hotel num beco - um local detestável, obscuro e suspeito. A tabuleta por cima da entrada parecia estrábica. As janelas estavam quase imersas na escuridão, mas filtrava-se por elas uma cacofonia de cânticos, risadas e conversas em voz alta. Gordon apeou-se em movimentos incertos e procurou o braço de Dora. «Dá-me' uma ajuda, Dora. Cuidado com o degrau.»
Um átrio pequeno, tenebroso, malcheiroso, com linóleo no sobrado, ar de abandono e mais ou menos impermanente. De uma sala algures à esquerda, os cânticos aumentaram de tom, lúgubres como um órgão de igreja. Uma criada de quarto vesga, de expressão maligna, materializou-se diante deles. Dava a impressão de que Dora não lhe era estranha, muito pelo contrário. Que estafermo! Não haveria concorrência, por aquele lado. Da sala à esquerda, uma voz isolada pegou na canção com inflexão irónica:
Ao homem que beija uma moça bonita
E vai contar à mamã,
Deviam arrancar-lhe os lábios, Deviam ...
Extinguiu-se subitamente, cheia da inefável e indisfarçável tristeza da devassidão. Parecia de uma pessoa muito jovem.
De um infortunado rapaz que, no fundo, preferia encontrar-se em casa com a mãe e as irmãs, a brincar à caça ao chinelo. Havia um grupo de jovens insensatos ali dentro, no bródio, com uísque e mulheres. A canção recordou algo a Gordon, que se voltou para Ravelston, o qual naquele momento transpunha a entrada, atrás de Bárbara.
- Onde está o meu Chianti?
O editor entregou-lhe a garrafa. O rosto exibia profunda palidez, esgazeado, quase apavorado. Entretanto, tentava manter certa distância de Bárbara, com um ar culposo que não conseguia dissimular.