A porta era de aço, pintada de verde, e continha um pequeno postigo circular, com uma aba do lado de fora.
Considerando que vira o suficiente de momento, deitou-se e puxou o cobertor até ao queixo. Perdeu a curiosidade pelo ambiente que o circundava. Quanto ao que acontecera na véspera, recordava-se de tudo - pelo menos, de tudo até entrar com Dora no quarto da aspidistra. Só Deus sabia o que sucedera daí em diante. Registara-se uma espécie de rusga e ele fora parar à cadeia. Não fazia a menor ideia do delito que cometera - podia mesmo tratar-se de homicídio, tanto quanto sabia. De qualquer modo, não se apoquentava com isso. Voltou o rosto para a parede e puxou mais o cobertor, para se isolar da luz.
Transcorrido um longo lapso de tempo, detectou um som do outro lado da porta e conseguiu virara cabeça para lá, o que' fez com que os músculos do pescoço parecessem na iminência de estalar.
Através do postigo, descortinou um olho azul e um semicírculo de face rosada rechonchuda.
- Vai uma chávena de chá? - inquiriu uma voz roufenha.
Endireitou-se e voltou imediatamente a sentir náuseas violentas. Acto contínuo, apertou a cabeça entre as mãos, ao mesmo tempo que emitia grunhidos de desconforto. A perspectiva de chá quente atraía-o, mas sabia que lhe provocaria novos vómitos, se contivesse açúcar.
- Por favor... - gemeu.
O polícia abriu uma divisória na metade superior da porta e introduziu um púcaro branco com chá. Afinal, continha açúcar. O homem era jovem - uns vinte e cinco anos -, corpulento, de expressão agradável, pálpebras brancas e peito enorme, que fez Gordon pensar no de um cavalo de tracção. Falava com sotaque satisfatório, embora polvilhasse o discurso com alguns erros gramaticais.
- Não estava muito mal, ontem à noite - acabou por observar.
- Mas estou agora.
- Portou-se pior, em todo o caso. Por que agrediu o sargento?
- Agredi o sargento?
- Se agrediu! Ena, pai! Ele ficou fulo.