Havia duas prateleiras inteiras de volumes sobre aqueles tópicos. O velho Mckechnie chamava-lhes «O Canto das Damas».
Surgiu mais um cliente para a biblioteca. Uma rapariga feia de vinte anos, em cabelo, de bata branca, rosto honesto, pálido e alegre e óculos de lentes grossas que lhe deformavam os olhos. Era empregada numa farmácia. Gordon revestiu-se da atitude de bibliotecário confidencial. Ela sorriu-lhe e, com passos quase tão deselegantes como os de um urso, seguiu-o à respectiva sala.
- Que género de livro quer desta vez. Miss Weeks?
- Bem... - Ela moveu os dedos na gola da bata e os olhos negros-melaço deformados fitaram-no com uma expressão de confiança. - Bem, o que eu gostava realmente era de uma história de amor palpitante. Uma coisa... moderna, sabe.
- Uma coisa moderna? Um romance de Bárbara Bedworthy, por exemplo? Leu Quase Virgem?
- Oh, essa não! É demasiado Profunda. Não suporto os livros Profundos. Mas quero uma coisa... o senhor sabe ... moderna. Problemas de sexo e divórcios, etc. O senhor sabe ao que me refiro.
- Moderno, mas não Profundo - proferiu Gordon, de uma pessoa inculta para outra.
Procurou entre os romances de amor modernos mais escaldantes. A biblioteca continha nada menos que trezentos. Da sala de entrada, provinham as vozes das, duas damas da classe média superior - a frutífera e a carilada - imersas em controvérsia sobre cães. Tinham pegado num dos volumes da especialidade e examinavam as gravuras. A frutífera mostrava-se entusiasmada com um cão-leão, o anjo dos animais domésticos, com os enormes olhos Sentimentais e o focinhinho preto... oh, tão amoroso! Mas a carilada - sim, indiscutivelmente viúva de um coronel - argumentava que os cães-leões eram patetas. Preferia os que tinham entranhas - os corajosos que lutavam. Os bichos patetas desagradavam-lhe. «Não tens Alma nenhuma, Bedélia, Alma nenhuma», dizia a voz da frutífera, em tom plangente. A sineta da porta voltou a tilintar. Gordon entregou à rapariga da farmácia Sete Noites Rubras e inscreveu uma anotação na sua ficha.