Mais tarde, ele não conseguia recordar-se de nada da sala, à excepção do brasão por cima da cadeira do magistrado. Este despachava os ébrios à razão de dois por minuto. Aos acordes de «John-Smith-bêbado-inveterado-bêbado? -sim-seis-xelins-seguinte!", eles circulavam pelo banco dos réus, como uma fila de interessados em apostar nas corridas diante do guiché de uma agência da especialidade. No caso de Gordon, porém, a sessão durou dois minutos em vez de trinta segundos, porque agredira um agente da autoridade e o sargento teve de depor, a fim de confirmar que o arguido o atingira numa orelha e chamara-lhe... bastardo.
Registou-se igualmente certa sensação entre a assistência, porque Gordon, quando interrogado na esquadra, se intitulara poeta. Devia estar muito bêbado para fazer semelhante afirmação, e o juiz olhou-o com desconfiança.
- Vejo aqui que se considera poeta. É de facto poeta?
- Escrevo poesia - disse Gordon em tom amuado.
- Hum... Bem, parece que isso não lhe ensinou a comportar-se decentemente em público. Vai pagar cinco libras ou cumprir catorze dias de prisão. Seguinte!
E nada mais. Não obstante, algures ao fundo da sala, um repórter enfastiado apurara os ouvidos.
Noutra sala do edifício, um sargento da Polícia sentado diante de um livro enorme inscrevia o quantitativo das multas aplicadas aos ébrios e recebia o dinheiro. Os que não podiam pagar eram conduzidos de novo para a cela, e Gordon esperava que fosse esse o seu destino. Ao invés, quando abandonou a sala de audiência, viu que Ravelston o aguardava e já entregara a importância da multa. Não protestou e permitiu que o editor o arrastasse para um táxi e conduzisse ao apartamento em Regent's Park. Mal chegaram, Gordon tomou um banho quente, de que estava urgentemente necessitado, depois dos ambientes altamente contagiosos que frequentara desde a véspera. Ravelston emprestou-lhe uma navalha de barbear, uma camisa, pijama, peúgas e roupa interior e até saiu à rua para comprar uma escova de dentes. Na verdade, mostrava-se singularmente solícito.