Encolheu os ombros, desviou os olhos e replicou secamente: 
- Eles não voltavam a admitir-me. 
- Admitiam, sim. Lembras-te do que Mr. Erskine disse? Não passou muito tempo, apenas dois anos. E eles andam sempre à procura de bons autores de textos publicitários. Todo o pessoal do escritório o reconhece. Tenho a certeza de que te aceitavam, se fosses pedir-lhes. E pagavam-te pelo menos quatro libras por semana. 
- Quatro libras por semana? Estupendo! Já podia ter uma aspidistra, hem? 
- Não brinques, por favor. 
- Não' estou a brincar. Falo muito a sério. 
- Queres dizer que não voltavas para lá... mesmo que te oferecessem o lugar? 
- Nem em sonhos. Nem que me pagassem cinquenta libras por semana. 
- Mas porquê? Porquê? 
- Já te expliquei - articulou, em tom de cansaço. 
Ela olhou-o com pesar. Afinal, era inútil. Havia a questão do dinheiro a interpor-se - os escrúpulos insensatos que nunca compreendera, mas aceitava meramente porque eram dele. 
Sentiu toda a impotência, o ressentimento de uma mulher que assiste ao triunfo de uma ideia abstracta sobre o bom senso. Como era enlouquecedor que se deixasse impelir para a valeta por uma coisa daquelas! 
- Não te entendo, Gordon! - exclamou, quase irritada. - Estás sem trabalho, arriscas-te a passar fome dentro de pouco tempo e, apesar disso, rejeitas a oferta de um bom emprego. 
- Tens toda a razão. Rejeito mesmo. 
- Mas precisas de ter um emprego qualquer. 
- Sim, mas não um bom emprego. Deus sabe quantas vezes já te expliquei isto. Penso que arranjarei trabalho, mais cedo ou mais tarde. Do mesmo género que até aqui. 
- Só que não acredito que tentes sequer procurá-lo. 
- Procuro, sim. Passei todo o dia a visitar livrarias. 
- E não te barbeaste! - acusou, visando outro flanco com prontidão feminina. 
- Agora que falaste nisso, acho que não - admitiu ele, pousando os dedos no queixo. 
- E esperas que te dêem trabalho? Oh, Gordon!... 
- Que Importa isso? É muito maçador fazer a barba todos os dias.