Ultimamente, provocava-lhe o choro com notável frequência. E não queria que derramassem lágrimas por ele, mas apenas que o deixassem em paz, para carpir as mágoas em sossego. Enquanto a enlaçava, acariciando-lhe a cabeça mecanicamente com uma das mãos, a sua principal sensação era de tédio. A vinda de Rosemary ainda lhe dificultara mais a situação. Na sua' frente, erguiam-se a sujidade, frio, fome, ruas inóspitas, asilo e cadeia. Era contra isso que necessitava de se couraçar. E consegui-lo-ia, se ela o deixasse em paz e não o procurasse com aquelas irrelevantes emoções.
Por fim, repeliu-a um pouco e viu que se recompusera rapidamente, como sempre acontecia.
- Gordon, meu querido!... Tenho tanta pena do que aconteceu, tanta pena!
- Mas pena de quê?
- De perderes o emprego e tudo o resto. Tens um ar tão infeliz...
- Não me sinto nada infeliz. Agradecia que não me lastimasses.
Acabou por se desprender dos braços dela, que tirou o chapéu e depositou-o numa cadeira. Viera com algo de bem definido para dizer. Algo que se abstivera de ventilar em todos aqueles anos e lhe parecera manter secreto, por uma questão de generosidade. Mas agora impunha-se que o dissesse, e fá-lo-ia sem rodeios, como era seu hábito.
- Fazes uma coisa para me seres agradável?
- O quê?
- Volta para a New Albion!
Com que então, era aquilo! Na realidade, Gordon previra-o. Rosemary começaria a irritá-lo como os outros.
Aderiria ao bando de pessoas que o importunavam e incitavam a «andar para a frente». Mas que outra coisa podia esperar? Era o que qualquer mulher diria. O estranho consistia em que nunca o fizera antes. Volta para a New Albion! Na verdade, a saída daquela firma constituíra o único acto significativo da sua vida. Fazia parte da sua religião, por assim dizer, afastar-se daquele sórdido mundo do dinheiro. Em todo o caso, naquele momento não se recordava com clareza dos motivos por que se despedira. Só sabia que jamais voltaria para lá, ainda que os céus caíssem, e a discussão que previa o enfastiava antecipadamente.