Lorenheim era um daqueles homens que não têm um único amigo no mundo, devorados pelo apetite de companhia. A sua solidão era tão intensa, que bastava uma pessoa abrandar o passo junto da sua porta para ele lhe saltar em cima e, puxando-a e adulando-a simultaneamente, obrigá-la a escutar histórias paranoicas intermináveis de raparigas que seduzira e patrões que batera aos pontos nessa atividade. E o seu quarto era mais frio e esquálido que quaisquer aposentos de uma pensão têm o direito de ser. Havia sempre pedaços de pão com manteiga meio comidos espalhados por todos os lados. O único outro hóspede era um engenheiro que trabalhava de noite. Gordon só o via esporadicamente - um indivíduo maciço, de rosto sombrio descolorido, que usava chapéu de coco na rua e dentro de casa.
Na escuridão familiar do seu quarto, Gordon tateou à procura do bico de gás e acendeu-o. O aposento tinha dimensões médias, insuficientemente grande para ser separado em dois com cortinas, mas demasiado para que uma lamparina de petróleo deficiente o aquecesse. Continha o tipo' de mobiliário que se podia esperar nas traseiras de um piso do topo. Cama individual com colcha branca, sobrado coberto por linóleo castanho, lavatório com jarro daquele esmalte barato que uma pessoa nunca consegue ver sem pensar em bacios. No peitoril da janela, via-se uma aspidistra doentia num vaso verde vidrado.
Encostada à parede, debaixo da janela, havia uma mesa de cozinha com uma toalha verde manchada de tinta. Era a secretária de «escrever» dele. Só após luta renhida com Mrs. Wisbeach lograra convencê-la a fornecer-lhe uma mesa de cozinha em vez da «ocasional» de bambu - um mero suporte para a aspidistra -, que era considerava apropriada para um quarto do último piso.
E mesma agora havia atritos intermináveis, porque Gordon nunca permitia que lha «arrumassem». Na verdade, achava-se em desordem permanente. Estava quase coberta com uma confusão de papéis, cerca de duzentas folhas de papel de sermão, sujas e de pontas dobradas, todas escritas e repletas de