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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 31
O chá e um cigarro contribuíam para a magia de breve duração. Ele principiou a sentir-se um pouco menos enfastiado e irritado. Deveria, afinal, trabalhar um pouco? Tinha de trabalhar, claro. Acabava por se detestar solenemente sempre que desperdiçava todo um serão. Não sem uma ponta de relutância, impeliu a cadeira para junto da mesa. Tornava-se necessário um esforço só para perturbar a hedionda floresta de papéis. Puxou para si algumas das pouco limpas folhas, separou-as e olhou-as. Que barafunda! Escritas, riscadas, escritas de novo, riscadas mais uma vez, até parecerem amargurados doentes de cancro após duas dezenas de intervenções cirúrgicas. Mas a letra, onde não estava riscada, era delicada e «intelectual ". Não sem dor e dificuldade, ele adquirira essa letra «intelectual», tão diferente da horrível caligrafia que lhe tinham ensinado na escola.

Talvez trabalhasse mesmo; pelo menos, durante algum tempo. Rebuscou entre a confusão. Onde estava aquela passagem em que se concentrara na véspera? O poema era imensamente longo - ou melhor, seria imensamente longo depois de concluído -, mais ou menos duas mil linhas, em estâncias de quatro versos, para descreverem um dia em Londres. Intitular-se-ia Prazeres Londrinos. Tratava-se de um projeto vasto, ambicioso - daqueles que só deviam ser surpreendidos por pessoas com tempo livre interminável. Gordon não se apercebera desse facto quando iniciara o poema, mas agora achava-se bem ciente disso. Com que despreocupação o encetara, dois anos atrás! Quando abandonara tudo e descera ao lodo da pobreza, a conceção daquele poema constituíra ao menos uma parte da sua motivação. Na altura, estava absolutamente seguro de se achar capacitado para tal. Não obstante, os Prazeres Londrinos tinham corrido mal desde o princípio. Era um empreendimento demasiado grande para ele, verdade que não podia refutar. Nunca progredira realmente e limitara-se a separar-se numa série de fragmentos. E, após dois anos de trabalho, apenas podia apresentar aquilo: meros fragmentos, incompletos em si e impossíveis de reunir.

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pág. 31 (Capítulo 3)

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Capa do livro O Vil Metal
Páginas: 257
Página atual: 31

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 2
Capítulo 3 22
Capítulo 4 38
Capítulo 5 66
Capítulo 6 85
Capítulo 7 109
Capítulo 8 129
Capítulo 9 159
Capítulo 10 185
Capítulo 11 212
Capítulo 12 231
Capítulo 13 251