Tentou dominar a insana esperança. Todavia, na pior das hipóteses, havia uma possibilidade de Rosemary ter escrito. Tinham passado quatro dias desde que o fizera pela última vez. Talvez não deixasse escoar-se tanto tempo, se soubesse como o desapontava.
As cartas dela - longas, com erros de ortografia, cheias de gracejos absurdos e protestos de amor - significavam muito mais do que conseguiria jamais compreender. Recordavam-lhe que ainda havia alguém no mundo que se preocupava com ele. Chegavam mesmo a compensá-lo das vezes em que algum animal devolvera um dos seus poemas; e, na verdade, as revistas sempre lhos tinham devolvido, à excepção de Anticristo, cujo editor, Ravelston, era seu amigo pessoal.
Soaram passos em baixo'. Escoavam-se sempre alguns minutos primeiro que Mrs. Wisbeach levasse as cartas aos hóspedes. Gostava de as apalpar, paira se inteirar do volume, ler os carimbos do correio, olhá-las a contraluz e especular sobre o conteúdo, antes de- as entregar aos destinatários. Exercia uma espécie de droit du seigneur sobre a correspondência. Afigurava-se-lhe que, dirigidas a sua casa, lhe pertenciam pelo menos em parte. Se o próprio destinatário fosse abrir a porta e recebesse as suas cartas, ela ofender-se-ia amargamente. Por outro lado, também lhe desagradava estar com o trabalho de as levar aos diferentes andares. Ouviam-se os seus passos transpor os degraus com lentidão e, uma vez no patamar do destinatário, ela detinha-se no patamar e respirava pesadamente por um momento, para este último saber que cortara o alento a Mrs. Wisbeach ao obrigá-la a subir a escada. Por último, com um pequeno grunhido de impaciência, a correspondência era enfiada pela frincha inferior da porta.
Mrs. Wisbeach vinha a subir a escada. Gordon escutou com atenção. Os passos pararam no primeiro andar. Carta para Flaxman. Recomeçaram a subir e voltaram a imobilizar-se no segundo. Carta para o engenheiro. O coração de Gordon palpitava dolorosamente. Uma carta, por amor de Deus, uma carta!