um pouco mais do que «delicado». O médico que cuidara do marido antes da morte, pousou-lhe o estetoscópio no peito e assumiu uma expressão grave. Recomendou que tivesse cuidado, evitasse apanhar frio, comesse géneros suculentos e, sobretudo, evitasse a fadiga. A actividade mais ou menos agitada de professora de música era, indiscutivelmente, a menos indicada. Gordon desconhecia tudo isto, porém Júlia achava-se ao corrente. Era um segredo entre as duas mulheres, cuidadosamente oculto ao rapaz.
Decorreu um ano. Gordon passou-o assaz miseravelmente, cada vez mais embaraçado com o seu vestuário modesto e falta de dinheiro para gastar, o que tornava as raparigas um alvo de terror para ele. Todavia, o New Age aceitou um dos seus poemas, naquele ano. Entretanto, a mãe sentava-se em desconfortáveis bancos de piano de salas cheias de correntes de ar, para dar lições de dois xelins a hora. Por fim, Gordon abandonou a escola, e o adiposo e intrometido tio Walter, que tinha conhecimentos no mundo de negócios em pequena escala, surgiu em cena para anunciar que um amigo de um seu amigo podia arranjar um «bom» emprego a Gordon no departamento de contabilidade de uma firma produtora de zarcão.
Tratava-se na verdade de um lugar excelente - uma oportunidade única para um jovem. Se Gordon se compenetrasse de que devia trabalhar com afinco, poderia tornar-se Alguém. A alma dele contraiu-se ao ouvir estas palavras. De súbito, como acontece às pessoas fracas, empertigou-se e, ante o horror de toda a família, recusou a proposta.
Registaram-se discussões terríveis, evidentemente. A família não conseguia compreendê-lo. Afigurava-se-lhe uma autêntica blasfémia rejeitar um emprego tão «bom», oportunidade que talvez não se repetisse. Por seu turno, ele reiterava que, não desejava um emprego daquela espécie. Então, que pretendia? «Escrever», declarou, com ar amuado. Mas como esperava ganhar a vida a «escrever»? É claro que não tinha resposta para esta pergunta. Num recanto do espírito, pairava a ideia de que poderia sustentar-se escrevendo