A princípio, viu-a apenas como uma personagem remota, pequena, de movimentos rápidos, inegavelmente, atraente, mas algo intimidativa.
Quando se cruzavam no corredor, ela olhava-o com ironia, como se soubesse tudo a seu respeito e o considerasse algo desfrutável, mau grado o. que parecia observá-lo com maior frequência do que o necessário. Não tinha nada que ver com o tipo de actividade dele, que pertencia ao departamento de contabilidade - um mero amanuense, com três, libras semanais.
O pormenor interessante na New Albion consistia em ser tão completamente moderna em espírito. Dificilmente se encontrava uma pessoa nela que não estivesse bem consciente de que a publicidade constituía a rampa mais suja que o capitalismo jamais produzira. Na firma de zarcão, ainda existiam algumas noções de honra e utilidade comerciais, ingredientes que seriam alvo de escárnio na New Albion. A maioria dos empregados era do tipo duro, americanizado e empreendedor - o tipo para o qual nada do mundo é sagrado, excepto o dinheiro. E tinham elaborado um código cínico. O público compõe-se de porcos e a publicidade corresponde ao remexer de uma vara num balde de lavagem. Contudo, sob o cinismo, havia a ingenuidade final, a adoração cega do deus-dinheiro. Gordon estudava-os dissimuladamente. Corno sempre, executava o seu trabalho sofrivelmente e os colegas olhavam-no por cima do ombro. Nada se alterara no seu íntimo. Continuava a detestar e repudiar o código do dinheiro. Mais cedo ou mais tarde, furtar-se-lhe-ia para sempre; e agora, apesar do seu último fiasco, persistia no planeamento da fuga. Encontrava-se no mundo do dinheiro, mas não lhe pertencia. Quanto aos espécimes que o rodeavam, os pequenos vermes de chapéu de coco que nunca se modificavam, e os empreendedores, os rastejadores das sarjetas do mundo dos negócios americano, apenas conseguiam diverti-lo. Agradava-lhe observar a sua mentalidade frenética que os obrigava a conservar o emprego. Gordon era o chefe entre eles que tomava apontamentos.
Um dia, aconteceu uma coisa curiosa.