Deviam ser umas seis ou sete. No meio de tantas, decerto havia uma que lhe era endereçada! Como de costume, Mrs. Wisbeach surgiu do seu covil ao ouvir o carteiro bater à porta. Na verdade, ao longo de dois anos, Gordon não conseguira antecipar-se-lhe uma única vez. Ela apertava zelosamente correspondência ao peito e depois, separando uma a uma, esquadrinhava os endereços. Da sua atitude, poder-se-ia depreender que suspeitava de que cada sobrescrito continha uma ordem judicial, uma mensagem de amor imprópria ou um folheto publicitário de Comprimidos Ámen.
- Há uma para si, Mr. Comstock - anunciou com azedume, estendendo-lhe a carta.
O coração de Gordon contraiu-se e parou de bater.
Um sobrescrito alongado. Não era, portanto, de Rosemary. Ah, estava endereçado com a sua própria letral Nesse caso, provinha do editor de um jornal. Tinha dois poemas «fora», naquele momento. Um no Califomian Review e o outro no Primrose Quarterly. Mas ai estampilha não era norte-americana. E havia pelo menos seis semanas que o Primrose recebera o poema! E se o tivesse aceitado, santo Deus?
Esquecera a existência de Rosemary. Disse apressadamente «Obrigado», guardou a carta na algibeira e recomeçou a subir a escada com calma aparente, mas mal se encontrou fora do campo visual de Mrs. Wisbeach, transpôs três degraus de cada vez.
Tinha de estar só para abrir a missiva. Ainda não alcançara a porta e já procurava a caixa de fósforos, mas os dedos tremiam-lhe tanto que ao acender o gás rachou a camisa do bico, Sentou-se, extraiu a carta da algibeira e hesitou. Por um momento, não conseguiu reunir coragem suficiente para a abrir. Ergueu-a a contraluz e tacteou-a para determinar a espessura. O seu poema compunha-se de duas folhas. De súbito, amaldiçoando entre dentes a hesitação, abriu o sobrescrito. Puxou do seu poema e, com ele, uma breve mensagem em letra miúda perfeita traçada numa imitação de pergaminho:
O Editor lamenta informar que não pode aproveitar a contribuição junta.