O papel achava-se decorado com um desenho de folhas de louro fúnebres.
Gordon cravou o olhar na comunicação com ódio concentrado. Talvez nenhuma reacção deste mundo seja tão terrível, porque não existe outra tão impossível de retribuir. De repente, detestou o seu poema e sentiu-se profundamente envergonhado dele. Considerou-o o mais fraco e imbecil que jamais escrevera. Sem voltar a olhá-lo, rasgou-o em numerosos pedaços, que largou no cesto dos papéis. Esquecê-lo-ia para sempre. No entanto, não destruiu a mensagem de rejeição. Moveu-a entre os dedos, notando a detestável suavidade. Urna coisa tão elegante, numa letra tão regular, Adivinhava-se sem dificuldade que provinha de uma «boa» revista - uma pretensiosa publicação intelectual, com o dinheiro de uma editora importante a apoiá-la. Dinheiro, dinheiro! Dinheiro e cultura! Ele cometera uma estupidez. Que ideia a de enviar um poema a um jornal como o Primrose!
Como se aceitasse trabalhos de pessoas como ele! O simples facto de o poema não estar escrito à máquina revelara-lhes o género de pessoa de que se tratava. Era a mesma coisa que se tivesse enviado um bilhete de visita ao Palácio de Buckingham. Pensou nos indivíduos que escreviam para o Primrose: uma plêiade de intelectuais endinheirados - os untuosos e refinados jovens animais que sugavam dinheiro e cultura com o leite materno. Que ideia insensata tentar abrir caminho entre aquela enfatuada multidão! Não obstante, amaldiçoava todos. Os cretinos! Os malditos cretinos! «O Editor lamenta!» Para quê tantos floreados? Por que não se limitara a escrever: «Não queremos os seus detestáveis poemas. Só aceitamos os dos fulanos que estudaram em Cambridge. Dispensamos os trabalhos dos proletários?» Os malditos e hipócritas cretinos!
Por fim, rasgou também a carta de rejeição' e levantou-se. Mais valia que se deitasse, enquanto lhe restavam energias para se despir. A cama era o único sítio quente. Mas primeiro tinha de acertar o alarme do despertador. Executou a familiar tarefa com uma sensação de insipidez horrível. Os olhos pousaram na aspidistra.