A mor cárrega que é:
essas moças que vendia:
Daquesta mercadoria
trago eu muita, bofé!
DIABO
Ora ponde aqui o pé…
BRÍSIDA
Hui! E eu vou pera o Paraíso!
DIABO
E quem te dixe a ti isso?
BRÍSIDA
Lá hei-de ir desta maré.
Eu sô ua mártela tal,
açoutes tenho levados
e tormentos soportados
que ninguém me foi igual.
Se fosse ò fogo infernal,
lá iria todo o mundo!
A estoutra barca, cá fundo
me vou, que é mais real.
Barqueiro mano, meu olhos,
prancha a Brísida Vaz!
ANJO
Eu não sei quem te cá traz…
BRÍSIDA
Peço-vo-lo de giolhos!
Cuidais que trago piolhos,
anjo de Deos, minha rosa?
Eu sô aquela preciosa
que dava as moças a molhos,
a que criava as meninas
pera os cónegos da Sé...
Passai-me, por vossa fé,
meu amor, minhas boninas,
olho de perlinhas finas!
E eu sou apostolada,
angelada a martelada,
e fiz cousas mui divinas.