Tudo se conjugava nele: bom entendimento, opiniões correctas, conhecimento do mundo e um coração sensível. Tinha sentimentos fortes no que respeitava a laços familiares e honra de família, sem orgulho, mas também sem fraqueza; vivia com a liberalidade de um homem com fortuna, sem exibicionismo; julgava por si mesmo em tudo quanto era essencial, sem desafiar a opinião pública em qualquer aspecto de decoro mundano. Era firme, observador, moderado e sincero, nunca se deixava dominar por estados de espírito ou pelo egoísmo, que se supõe ser um sentimento forte; mas apesar disso, tinha uma sensibilidade para o que era afável e agradável, e um apreço por todas as venturas da vida doméstica que personalidades dotadas de entusiasmo imaginário e violenta agitação raro possuem, realmente. Lady Russell tinha a certeza de que ele não fora feliz no casamento. O coronel Wallis dizia-o, e ela via-o. Mas não tinha sido uma infelicidade que lhe azedasse o espírito, nem que (não tardou a desconfiar) o impedisse de pensar numa segunda tentativa. A satisfação de Lady Russell com Mr. Elliot ultrapassava o flagelo que era Mrs. Clay.
Há já alguns anos que Anne começara a aprender que ela e a sua excelente amiga podiam, às vezes, pensar de maneira diferente. Não a surpreendia, portanto, que Lady Russell não visse nada de suspeito ou incoerente, nada que exigisse mais motivos do que aparentava, no grande desejo de reconciliação de Mr. Elliot. Na opinião de Lady Russell, era perfeitamente natural que ele, num período amadurecido da vida, considerasse um propósito muito desejável, e que de uma maneira geral muito o recomendaria entre todas as pessoas sensatas, estar de boas relações com o chefe da sua família - era o efeito mais simples do mundo exercido pelo tempo numa cabeça naturalmente lúcida, e que só falhava na euforia da juventude.
