Sangue Azul - Cap. 17: 5 Pág. 176 / 287

Uma vez por outra, a natureza humana pode ser magnífica em tempos de provação, mas na generalidade é a sua fraqueza, e não a sua força, que aparece num quarto de doente. É de egoísmo e impaciência, mais do que de generosidade e coragem, que ouvimos falar. Há no mundo tão pouca amizade genuína! E infelizmente - a sua voz tornou-se baixa e trémula há tantos que se esquecem de pensar seriamente antes de ser quase tarde de mais!

Anne compreendeu o sofrimento de tais sentimentos. O marido não fora o que devia, e a mulher tinha sido conduzida para o seio de uma parte da humanidade que a fazia pensar pior do mundo do que ela achava que ele merecia. Foi, no entanto, apenas uma emoção passageira, a de Mrs. Smith; ela afastou-a e não demorou a acrescentar, em tom diferente:

- Não creio que a situação em que a minha amiga Mrs. Rooke se encontra presentemente seja de molde a fornecer-me muito que possa ou interessar-me, ou edificar-me. Ela está apenas a cuidar de Mrs. Wallis, de Marlborough Buildings - simplesmente uma mulher bonita, pateta, esbanjadora e elegante, suponho - e, naturalmente, não terá nada que contar a não ser a respeito de rendas e atavios. No entanto, eu estou disposta a ter os meus lucros com Mrs. Wallis. Ela tem muito dinheiro e eu tenciono fazê-la comprar todas as coisas de preço elevado que tenho agora em mãos.

Anne visitara várias vezes a sua amiga antes de a existência de tal pessoa ser conhecida em Camden-place. Mas por fim tornou-se necessário falar dela. Sir Walter, Elizabeth e Mrs. Clay regressaram uma manhã de Laura-place com um inesperado convite de Lady Dalrymple precisamente para essa noite, e Anne já se tinha comprometido a passá-la em Westgate-buildings. Não lamentou o pretexto. Tinha a certeza de que só haviam sido convidados porque, retida em casa por uma grande constipação, Lady Dalrymple se sentia satisfeita por poder servir-se do parentesco que lhe fora oferecido com tanta insistência.





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