Sangue Azul - Cap. 17: 5 Pág. 175 / 287

Sabe, toda a gente tem o coração aberto quando acaba de se libertar de dores fortes, ou está a recuperar a bênção da saúde, e a enfermeira Rooke sabe perfeitamente quando deve falar. É uma mulher astuta, inteligente e sensata. A sua profissão permitiu-lhe conhecer a natureza humana, e ela possui um fundo de bom senso e observação que, como acompanhante, a tornam infinitamente superior aos milhares daquelas que, tendo recebido apenas «a melhor educação do mundo», não sabem nada a que valha a pena ligar importância. Chame-lhe tagarelice, se quiser, mas quando a enfermeira Rooke dispõe de meia hora livre para estar comigo, é infalível, tem sempre qualquer coisa para contar que é divertido e proveitoso, qualquer coisa que nos permite conhecer melhor a nossa espécie. Gostamos de saber o que se está a passar, de estar au fait no que respeita às modas mais recentes, de ser frívolas e patetas. Para mim, que passo tanto tempo sozinha, conversar com ela é, asseguro-lhe, um regalo.

Anne, longe de desejar troçar desse prazer, respondeu:

- Não me custa nada a acreditar. As mulheres dessa classe têm grandes oportunidades, e quando são inteligentes pode valer muito a pena escutá-las. Estão habituadas a estar em contacto com tantas diversidades da natureza humana! E não é só nas suas tolices que são entendidas, pois de vez em quando vêem-na em todas as circunstâncias capazes de serem muito interessantes ou tocantes. Quantos casos de afecto ardente, desinteressado e abnegado, de heroísmo, coragem, paciência e resignação devem testemunhar, todos os conflitos e sacrifícios que mais nos enobrecem. Um quarto de doente pode frequentemente fornecer ensinamentos que encheriam volumes.

- Sim - admitiu Mrs. Smith, mais duvidosa -, algumas vezes talvez isso aconteça, embora eu tema que as suas lições não são do estilo elevado 'que descreve.





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