Sangue Azul - Cap. 18: 6 Pág. 191 / 287

Mas quando isso aconteceu, porém, foi com toda a sua habitual franqueza e bom humor.

- Ah, é você! Obrigado, obrigado! Chamo a isto tratar-me como um amigo. Estava aqui a olhar para um quadro. Nunca consigo passar por esta loja sem parar. Que maneira extraordinária de representar um barco! Ora repare. Já viu alguma coisa parecida? Que estranhos tipos os seus excelentes pintores devem ser para imaginarem que alguém arriscaria a sua vida numa velha casca de noz tão informe como aquilo. E, no entanto, lá estão dois cavalheiros perfeitamente à vontade, olhando à sua volta para os rochedos e as montanhas, como se não estivessem na iminência de ir parar ao mar a qualquer momento. Pergunto a mim mesmo onde terá sido construído aquele barco! - Deu uma gargalhada saborosa. - Eu não me aventurava num charco para cavalos, naquela coisa. Bem acrescentou, voltando-se -, para onde vai? Posso ir a algum lado, para si, ou ir consigo? Posso ser útil nalguma coisa?

- Não, obrigada, a não ser que queira dar-me o prazer da sua companhia na pequena distância em que os nossos caminhos seguirem juntos. Eu vou para casa.

- Fá-lo-ei com todo o meu coração, e irei mais longe, até. Sim, sim, vamos dar um passeiozinho agradável juntos, e eu aproveito para lhe dizer uma coisa, enquanto caminhamos. Aqui tem o meu braço, isso mesmo. Não me sinto bem se não tenho aí uma mulher. Meu Deus, mas que barco aquele! - exclamou, lançando um último olhar à estampa, quando começaram a andar.

- Tem, então, uma coisa para me dizer?

- Tenho, sim. Daqui a bocadinho. Agora vem aí um amigo, o capitão Brigden; eu pergunto-lhe apenas como está, quando nos cruzarmos. Não paro. «Como está?», pergunto, e o Brigden fica de olhos arregalados por me ver com alguém que não é a minha mulher.





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