Sangue Azul - Cap. 20: 8 Pág. 210 / 287

Anne não reparou nem pensou em nada relacionado com o esplendor da sala. A sua felicidade vinha de dentro. Os seus olhos brilhavam e as suas faces estavam afogueadas, mas ela não tinha consciência nenhuma disso. Pensava apenas na última meia hora, e enquanto se encaminhavam para os seus lugares passou-a rapidamente em revista. A escolha de assuntos do capitão Wentworth, as suas expressões e, mais ainda, a sua atitude e o seu ar, tinham sido tais que ela só podia vê-las a uma luz. A sua opinião acerca da inferioridade de Louisa Musgrove - opinião que parecera ansioso por dar -, o seu espanto a respeito do capitão Benwick, os seus sentimentos quanto a um primeiro afecto forte, as frases iniciadas que não conseguira acabar, os seus olhos meio desviados e o seu olhar mais do que expressivo - tudo, rudo proclamara que ele tinha pelo menos um coração que regressava para ela, que a raiva, o ressentimento e o querer evitá-la já não existiam e lhes sucedera, não apenas amizade e consideração, mas também a ternura do passado - sim, alguma parte da ternura do passado. Anne não podia considerar sequer a ideia de que a mudança significasse menos do que isso. Ele devia amá-la.

Estes eram pensamentos que, juntamente com as visões deles decorrentes, a ocupavam e perturbavam a tal ponto que não lhe deixavam qualquer capacidade de observação, e ela percorreu a sala sem o vislumbrar, sem ao menos tentar distingui-lo. Quando os seus lugares foram determinados e se instalaram todos como devia ser, Anne olhou em redor, para ver se, por acaso, ele se encontraria na mesma parte da sala; mas não estava, e os seus olhos não conseguiram alcançá-lo - e como o concerto ia precisamente começar, ela teve de se resignar a, durante algum tempo, ser feliz de uma maneira mais modesta.





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