Estou num bom ancoradouro, aqui - sorriu a Anne -, bem abastecido e sem necessidade de nada. Não tenho pressa nenhuma de receber qualquer sinal. Bem, Miss Elliot continuou, baixando a voz -, como eu estava a dizer, suponho que nunca concordaremos nesse ponto. Provavelmente, nenhum homem e mulher concordariam. Mas permita-me observar que todas as histórias são contra vocês, todas as histórias em prosa ou em verso. Se eu tivesse a memória do Benwick, poderia apresentar-lhe num ápice cinquenta citações a favor dos meus argumentos, e eu não creio que alguma vez na vida tenha aberto um livro que não dissesse qualquer coisa sobre a inconstância feminina. Canções e provérbios, todos eles falam da volubilidade da mulher. Mas talvez a Anne me respondesse que todos eles foram escritos por homens.
- Talvez, realmente. Sim, sim, por favor, nenhuma referência a exemplos retirados de livros. Os homens têm todas as vantagens sobre nós, para contarem a sua própria história. A educação tem estado do lado deles, num grau muito mais elevado, e a pena, nas suas mãos. Não consentirei que os livros provem coisa alguma.
- Mas como havemos de provar alguma coisa?
- Nunca provaremos. Nunca poderemos ter esperança de provar alguma coisa acerca de tal assunto. Trata-se de uma diferença de opinião que não admite prova. Começamos cada um de nós, provavelmente, com uma pequena parcialidade em relação ao nosso próprio sexo, e baseados nessa parcialidade elaboramos todas as circunstâncias favoráveis ocorridas dentro do nosso próprio círculo: muitas dessas circunstâncias (talvez os próprios casos que mais nos impressionam) podem ser precisamente aquelas que não é possível apresentar sem trair uma confiança ou, nalgum aspecto, dizer o que não deve ser dito.