Sangue Azul - Cap. 5: 5 Pág. 37 / 287

Não imaginava que seu pai tivesse, no momento presente, nenhuma ideia desse género. Mrs. Clay tinha sardas, um dente projectado para a frente e pulsos desgraciosos, defeitos sobre os quais ele fazia constantemente comentários severos, na sua ausência; mas, por outro lado, era jovem e, sem dúvida, bonita, no todo, e possuía, mercê de uma mente arguta e de diligentes maneiras agradáveis, atractivos infinitamente mais perigosos do que quaisquer outros meramente pessoais poderiam ser. Anne sentiu-se tão impressionada com o grau do perigo que corriam, que não pôde escusar-se a tentar torná-lo perceptível à irmã. Tinha poucas esperanças de êxito, mas Elizabeth, que no caso de acontecer o temido revés teria muito mais motivos para se lamentar do que ela, não deveria nunca, pensou, ter qualquer razão para a censurar por não a ter avisado.

Falou, pois, e pareceu não lograr mais do que ofender. Elizabeth não conseguia imaginar como lhe pudera passar pela cabeça uma suspeita tão absurda, e respondeu indignadamente que cada pessoa conhecia perfeitamente o seu lugar.

- Mrs. Clay - disse calorosamente - nunca esquece quem é, e como eu estou muito mais bem informada dos seus sentimentos do que tu, posso-te garantir que, no tocante a casamento, eles são particularmente correctos, e ela reprova toda a desigualdade de situação e posição social mais fortemente do que a maioria das pessoas. E quanto ao meu pai, francamente, nunca imaginaria que ele, que se manteve solteiro durante tanto tempo por nossa causa, merecesse ser agora alvo de suspeitas. Se Mrs. Clay fosse uma mulher bela, admito que talvez fosse errado mantê-la tanto na minha companhia - não por haver alguma coisa no mundo capaz de induzir meu pai a fazer um casamento degradante, mas sim porque ele se poderia sentir infeliz.





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