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Capítulo 1: Carta-Prefácio

Página 10
A dor não era irredutível. A alma, vencendo-a, converteu-a em amor. Não há beleza esplendente que não fosse dor caliginosa. A flor é a dor da raiz, a luz a dor das estrelas, e a virtude ou o génio a dor ascendente do éter luminoso, cristalizando no homem, ao fim dum calvário inenarrável de milhões e milhões de séculos sem conta. A alma de Jesus proclama o triunfo da santidade sobre o crime, como o corpo de Vénus entoa a vitória da linha viva e musical sobre a linha inerte, a linha bruta e desarmónica. Beleza de essência ou beleza de aparência, virtude de Jesus ou formosura de Vénus, têm, ancestralmente, a iniciá-las o mesmo horror e a mesma imperfeição. Do verbo odiar nasceu, evolutivamente, o verbo amar. Se o homem foi tigre, o beijo foi dentada.

Toda a alegria vem do amor, e todo o amor do sofrimento.

A alegria é o sofrimento amoroso, o sofrimento espiritualizado. Deus é, pois, o amor infinito, vencendo infinitamente a infinita dor. E, vencendo a infinita dor, ele é a infinita alegria, a paz absoluta, a glória eterna, a bem-aventurança ilimitada. Deus sustenta-se realmente, como diz o meu amigo, do sofrimento universal.

Nos meus Ensaios Espirituais, ainda inéditos, eu exprimo inúmeras vezes a mesma ideia. Quer ver?

Destaco uma página:

«Só a dor infinita produz o amor absoluto. Deus, amor absoluto, sustenta-se do sofrimento do universo. É uma luz eterna, alimentada por um incêndio eterno. Deus, amor absoluto, projecta-se em dor infinita de natureza.

Para ser a perfeição absoluta, encarnou-se na imperfeição ilimitada do universo. Deus não se compreende sem universo. O perfeito vive do imperfeito, como a chama vive do combustível. O mal é a condição do bem, o erro a condição da verdade, o crime a condição da virtude.

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pág. 10 (Capítulo 1)

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 10

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154