Os Pobres - Cap. 1: Carta-Prefácio Pág. 11 / 158

O santo é santo, porque venceu o demónio. Sem o demónio, o santo não se compreende. Sem universo imperfeito não há Deus perfeito. Satanás é uma das faces de Deus.

Mais ainda: Satanás é o corpo de Deus. Deus é Deus, isto é, infinita perfeição, infinito amor, porque vence eternamente infinitas imperfeições e infinitas dores. Deus é a completa afirmação do Bem, pela completa e contínua vitória sobre o mal. No instante em que o mal acabasse, acabava Deus. Deus não é ideia, pensando-se infinitamente: é acto infinito, amor infinito, a realizar-se pela infinita vontade na duração infinita. Eliminando o imperfeito, o perfeito evapora-se. Destruindo o relativo, destruireis o absoluto: o absoluto que fica é o absoluto não-ser. O infinito amor de semelhante Deus seria o infinito amor de si próprio, o infinito egoísmo. É como se quiséssemos resumir a infinidade dos números em um número único, infinito, eterno, inalterável, o número absoluto perfeito, e realizássemos a síntese da infinidade numérica no absoluto do zero. Tudo igual a nada. Não!

Deus é infinito amor, esforço infinito, actividade infinita.

O universo é o corpo de Deus, é a carne de Deus. Deus é absolutamente perfeito na diversidade infinita, por que sem essa diversidade infinita não há, nem pode haver, a união suprema. Mas a síntese da vida é irrealizável na ideia de número e quantidade, na ideia concreta de matéria. Só na ordem moral se unifica absolutamente a vida vária do universo. As quantidades, traduzidas em imperfeições, os números traduzidos em egoísmos, são redutíveis ao absoluto na ideia única do amor. Aí o imperfeito torna-se a condição matemática do perfeito.

Deus, amor absoluto, vive e sustenta-se dos egoísmos infinitos, continuamente evolucionando para ele.





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