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Capítulo 1: Carta-Prefácio

Página 9
Contradição inexplicável: A natureza é iniquidade, porque a lei que a rege assegura o predomínio e a sobrevivência do mais forte. Mas quem me leva a dizer que a natureza é iníqua?

O sentimento do bem e da justiça, desenraizável do meu coração e do meu cérebro. Logo existe também na natureza, pois que eu sou natureza, a lei do amor e da justiça, contraposta à lei da força e da violência. Se Cristo morreu na cruz, a natureza é o mal. Mas sendo a natureza o mal, como é que dela nasceu o mesmo Cristo, afirmação de todo o bem?

A ideia do bem e da perfeição, levada ao infinito, é a ideia de Deus. Mas como harmonizar o absoluto perfeito com a natureza imperfeita? Como fazer sair a diversidade da identidade, o complexo do simples, o mal do bem, o universo de Deus?

Chegamos à terceira e última fase do seu espírito:

à fase religiosa, à emoção divina.

A natureza desagregada em movimento traduziuse-lhe em dor e resolveu-se-lhe em amor. Movimento infinito, dor infinita, amor infinito, eis os três rostos da natureza no espelho cada vez mais profundo da sua consciência, nos olhos cada vez mais abertos da sua alma.

O dinamismo atómico do universo reduziu-o, – pavorosa síntese! – à dor sem fim, à dor universal. Viver é sofrer, e tudo vive, tudo sofre. Vida infinita igual à dor eterna, eis a equação matemática da natureza. Pandiabolismo, satanás-universo. Um circulo infernal, hermeticamente inexorável. Não há, pois, evasiva? Há. Desse inferno sobe uma escada de chamas tenebrosas, que vai ao purgatório, e do purgatório uma espiral de luz radiante, que nos leva ao céu. A dor, que se lhe afigurou a essência intima da vida e a sua única expressão, não era, ao cabo, o substracto último da natureza. o fundo irredutível do universo.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 9

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154