O pai estava escarangado e a minha madrasta era tão má, que, por eu me demorar num recado, partiu-me um braço.
– Pois eu foi assim de repente... – diz outra.
– Ia pela rua fora. Vinha da fábrica, começou a chover e uma lama!... Tinha frio e um homem pôs-se a falar-me ao ouvido e a levar-me. Eu nem sei como aquilo foi... E a falar, a falar, até me doía o coração! E nunca mais o vi. Se o vir acho que nem o conheço.
– Enganam e nunca mais querem saber.
– A mim minha mãe bem me pregava mas a gente que há-de fazer?
– Ontem os soldados puseram-me o corpo negro – diz uma.
E mostra a triste carne magoada, os seios murchos e com nódoas. No ombro os ossos furam-lhe a pele.
– Quando eu morrer... oh quando eu morrer!...
– Tola!
– Que tem? Tenho ali a roupa apartada.
– A mim, enganaram-me, levaram-me... Eu não sabia nada. Depois comecei a servir. Enganavam-me e punham-me fora... Depois não tinha mais para onde ir...
– Eu cá tive um filho...
Uma que estava calada soluçou no escuro. E como todas se voltassem pôs-se a rir e a ajeitar os cabelos.
– Eu tive um filho e pus-me a criá-lo.
Depois disso o meu amigo nunca mais quis saber.
Quando eu o procurava ria-se. Mostrava-lhe o inocente e ele punha-se a rir. – Mulheres não faltam, dizia-me. Vai-te! – E a gente fica feia. Vai um dia e disse-me: – Se cá tornas chamo a polícia.
– Eu chorei até não ter mais lágrimas e acabou-se tudo. São todos o mesmo. Noutro dia vi-o, mas ele fingiu que não me conheceu.
– E o teu filho era bonito?
– Era um anjinho do céu. Tanto chorei que secou-se-me o leite de chorar. A gente sempre e mais tola!...
Pôs-se muito chupadinho e morreu.
– A Maria já deitou um à roda.
– Eu cá se tivesse um filhinho acho que morria por ele.