– Antes morrer no rio!
– Eu cá – diz outra – tenho o corpo negro, mas que m’importa? Se o meu me deixasse antes queria acabar...
Pela minha salvação que ia direitinha ao rio.
– Depois queixai-vos... –ameaça a velha. – Sereis pior do que arroladas.
– Nem as pancadas dele me doem, e mais o meu fez-me comer terra – afiança outra.
– A gente não tem mais ninguém no mundo. Quem quer saber duma desinfeliz?
– A gente não tem pai nem mãe, nem fôlego vivo.
– Se choro, os outros riem-se. Quem entra e sai que se importa?
– E ninguém neste mundo pode chorar sozinho...
– Eu cá – diz a Mouca – eu cá estou tão habituada a que me dêem dinheiro, que se o meu amigo fica comigo, escondo moedas no lençol... Quando acordo e as encontro, parece que me pagaram.
As outras riem-se com risos que destoam, e a patroa prega-lhes:
– Vocês nem sequer vêem... O que aconteceu à Maria? Afogou-se e o amante ri. Hélia lá foi pra o hospital. É morta. E todas morrem se se deixam ter coração.
– Às vezes mais vale morrer.
– Morrer!... – exclama a tísica.
– Eu já me matei... E depois? Foi quando me vi sozinha no mundo. Ele tinha-me desprezado. Peguei e bebi um quarteirão de aguardente com lumes. Pensais que estou arrependida? Ah, se a senhora soubesse o que se sente!... Quando me vieram dizer – foi a Mouca – que o meu amigo estava com a outra, foi como se tornasse a ressurgir diante de mim a mãe que eu matei à força de lágrimas, por me ver na triste vida. Nem podia gritar.
Tinham-me secado os gritos aqui – na boca... Saí, andei...
A porta dela estava fechada e ali fiquei até de manhã ao frio. Os homens que passavam diziam o que lhes parecia, porque ninguém ideia o que cada um traz dentro do coração. Cismei, passei a noite ora a cismar, ora a chorar.