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Capítulo 6: V - História do Gebo

Página 44
.. O que lá vai, lá vai.

– Pois é o que tu queres... Mas hei-de falar, hás-de-me ouvir. Deste cabo de tudo, davas dinheiro a toda a gente... Tinhas-me a mim, tinhas a pequena.

Reparasses, era a tua obrigação.

– Ó mulher, ora tu que todos os dias vens com a mesma seca, Não me basta a minha aflição... De que serve isso agora?

– De que serve? Serve de muito!

À noite, à luz do petróleo, o Gebo fazia escritas com um cobertor pelos ombros e as mãos geladas de frio. A filha, sumida na sombra, compunha-lhe a roupa, e a mulher ralhava, passeando na sala. Batia a luz do candeeiro na cara oleosa do Gebo, no nariz enorme, nos seus olhos tristes, e, do outro lado da mesa, só se viam iluminadas as mãos de Sofia, toda a noite trabalhando sem ruído e sem descanso...

– Já tive uma letra tão linda e agora... Os desgostos cansam a gente.

– É de ti! é de ti! Outros têm penas, desgostos, caem e tornam a levantar-se... – dizia-lhe a mulher.

– Têm sorte, é o que é. Para tudo é preciso sorte. – E curvado sobre os livros contando, murmurava mais baixo:

– ...E vão sete – ...

– Sorte! sorte! A culpa é tua que não tens energia nenhuma. Procura! Deixas-te ficar espapaçado para aí...

Tu o que queres é comer e dormir.

– Ó mulher!... – E erguia o carão aflito, onde batia a claridade de chapa. Viam-se-lhe os olhos aguados. – O mulher, a gente também perde as forças... Sempre a desgraça! sempre a desgraça!...

– Tudo nos corre torto!

– Mas...

– Tudo! Deixa-me!...

E desatava a chorar. Então o Gebo, aflito, a mão curta e gorda ronronando no papel, mentia para lhe dar ânimo.

– Qualquer dia entro aí num negócio, tu verás...

Não te aflijas. – E vão cinco... – Também há-de chegar o nosso S. Miguel. A desgraça há-de-se cansar de nos perseguir.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 44

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154