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Capítulo 15: XIV - O escárnio

Página 93
Há um silêncio cavo. Chove sempre a mesma chuva tenaz, com um céu nublado e aflitivo. A cidade morta, sob o aguaceiro, espapaça-se na lama. Debaixo de cada um destes tectos escondem-se as mesmas misérias e os mesmos sonhos. Esta pedra abriga ódios, crimes, escárnio. A sombra perde-se no escuro, torna, pára indecisa...

Que me importa o que os outros sofrem? Uma desgraça? O mundo está cheio de desgraçados. Um sonhador que se afunda? O mundo está farto de sonho.

Este mesmo céu pesado, esfarrapado e trágico, tem abrigado sempre gritos e catástrofes. Que me importa o que ele sofre? Cada um por si, cada um com as suas lágrimas e os seus ódios... O homem por vezes tropeça, cai; depois lá se arrasta trôpego. Alvorece e, àquela primeira luz, a cidade parece desenterrada. A casaria ressurge, emerge da treva, leprosa, cambada, gasta pelo ódio, pelas ambições, pelos rancores...

Ei-lo que se senta na terra, arrasado, enlameado, exausto... Ao romper da manhã começa de novo a chover e ele chora.

Tanta lágrima! Um dia a desgraça, no outro a desgraça... Aquela sombra é a minha! aquele homem sou eu!...

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pág. 93 (Capítulo 15)

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 93

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154