As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 5: O Ritual de Musgrave Pág. 117 / 274

Esta postura tinha-lhe trazido ao rosto todo o sangue estagnado e ninguém poderia reconhecer aquela fisionomia disforme, da cor do fígado. Mas a sua estatura, a sua roupa e os seus cabelos eram suficientes para mostrar ao meu cliente, quando o corpo foi levantado, que era na verdade o seu mordomo desaparecido. Tinha morrido havia alguns dias, mas não apresentava nenhum ferimento ou contusão no corpo que mostrasse como havia encontrado o seu terrível fim. Quando foi removido da adega, estávamos perante um novo problema, quase tão formidável como aquele com que tínhamos iniciado.

» Confesso, Watson, que até eu estava desapontado com a minha investigação. Calculara resolver o assunto assim que encontrasse o lugar referido no ritual; mas agora estava ali, e aparentemente tão longe de saber como dantes o que a família tinha escondido com semelhantes precauções. É verdade que havia descoberto o destino de Brunton, mas não esclarecera como lhe sobreviera esse destino nem qual a parte desempenhada no assunto pela mulher que desaparecera. Sentei-me num barril ao canto e pensei em todo o caso com muito cuidado.

» Você conhece os meus métodos em tais circunstâncias, Watson. Coloquei-me no lugar do homem. E, tendo primeiro medido a sua inteligência, tentei imaginar como teria eu agido em tais circunstâncias. Nesse caso, a tarefa foi simplificada pela inteligência de Brunton, que era de primeira classe, de modo que era desnecessário fazer qualquer concessão de equação pessoal, como lhe chamam os astrónomos. Ele sabia que alguma coisa de valor estava escondida. Tinha marcado o lugar. Sabia que a pedra que o cobria era muito pesada para um homem, sem auxílio, a remover. O que faria então? Podia procurar auxílio de fora se tivesse alguém em que pudesse confiar, mas teria que tirar as trancas das portas, com um considerável risco de detenção.





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