»O que aconteceu foi isto: há dois dias recebi uma carta que lhe vou ler. Não tem nem endereço nem data:
Um nobre russo que agora reside em Inglaterra ficaria feliz por ter a assistência profissional do Dr. Trevelyan. Tem sido, há vários anos, vítima de ataques catalépticos, a respeito do que, como é bem sabido, o Dr. Treuelyan é autoridade. Ele propõe procurá-lo às seis e um quarto da tarde de amanhã, se o Dr. Trevelyan julgar conveniente estar em casa.
Esta carta interessou-me vivamente, porque a principal dificuldade no estudo da catalepsia é a raridade da moléstia. Claro que eu estava no meu consultório quando, à hora marcada, o criado introduziu o paciente.
»Era um homem envelhecido, magro, modesto e vulgar, que não dava a menor ideia de um nobre russo. Fiquei muito mais chocado com a aparência do seu companheiro. Era um jovem alto, surpreendentemente bem parecido, de rosto sombrio e severo, com uns membros e um peito de Hércules. Segurava o braço do outro quando entraram e ajudou-o a sentar-se numa cadeira, com uma ternura que dificilmente se podia esperar da sua aparência.
«- O senhor há-de perdoar a minha intrusão, doutor» - disse-me ele, falando inglês com uma pronúncia um tanta esquisita. «- Trata-se do meu pai, e a sua saúde é para mim de inestimável importância.»
»Fiquei comovido com essa ansiedade filial.
«- Talvez gostasse de ficar durante a consulta?»
«- De modo nenhum» - respondeu ele com um gesto de horror. «- É-me mais penoso do que consigo expressar.