- Não queremos vagabundos por aqui - gritou.
- Quero apenas fazer-lhe uma pergunta - disse Holmes, metendo o indicador e o polegar no bolso do colete. - Amanhã, às cinco da manhã, será muito cedo para visitar o seu patrão, Sr. Silas Brown?
- Valha-me Deus! Se aparecer alguém, encontra-o com certeza, visto que ele é sempre o primeiro a acordar. Mas aí está ele para responder às suas perguntas. Não, senhor, não. Se ele me visse aceitar o seu dinheiro, despedir-me-ia. Mais tarde, se o senhor quiser.
Quando Sherlock Holmes acabava de guardar a meia coroa que tirara do bolso, um homem idoso, de aparência feroz, apareceu ao portão, agitando um chicote de caça.
- O que há, Dawson? - trovejou. - Conversa fiada! Volte para o seu trabalho. Toca a andar! E os senhores? Que diabo querem os senhores daqui?
- Apenas dez minutos da sua atenção, meu bom amigo - respondeu Holmes, com a voz mais suave que lhe era possível.
- Não tenho tempo para falar com vagabundos. Não queremos estranhos aqui. Vão-se embora ou solto-lhes o cão às pernas.
Holmes então inclinou-se e murmurou qualquer coisa ao ouvido do violento treinador que, acto contínuo, ficou muito sério e corou até à raiz dos cabelos.
- É mentira! - gritou. - Uma mentira infernal.
- Muito bem! Quer que o interrogue em público ou em sua casa?
- Oh! Entre, faz favor. Entre.
Holmes sorriu.
- Não o farei esperar mais do que alguns minutos, Watson - disse. E voltando-se para o treinador: - Pronto, Sr. Brown, estou à sua inteira disposição.
Tinham já passado uns bons vinte minutos e todo o rubor do poente se transformara numa cor de cinza, quando Holmes e Brown reapareceram. Eu jamais vira uma tão radical mudança operar-se num homem em tão curto lapso de tempo.