As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 1: O Estrela de Prata Pág. 21 / 274

O rosto de Brown estava de uma palidez extrema, gotas de suor cintilavam-lhe na fronte e as mãos tremiam-lhe tanto que o chicote de caçador oscilava como uma vergôntea ao vento. Os seus modos arrogantes e ameaçadores haviam de todo desaparecido, humilhando-se mesmo perante o meu companheiro, como um cão aos pés do dono.

- As suas ordens serão cumpridas. Serão cumpridas... - repetiu.

- Aviso-o de que não permito enganos - disse Holmes, olhando à sua volta.

O outro encolheu-se quando se apercebeu da ameaça que se reflectia nos olhos do detective.

- Oh! Não, não haverá engano. Há-de lá estar. Acha que o mude primeiro ou não?

Holmes pensou um momento e depois soltou uma gargalhada.

- Não, não o mude. Eu escrever-lhe-ei sobre o assunto. E nada de batota, senão...

- Oh! O senhor pode confiar em mim. Pode confiar em mim.

- Deve arranjar as coisas para que, na altura, ele pareça seu.

- Pode contar comigo, senhor.

- Sim. Também me parece que posso. Amanhã terá notícias minhas.

Voltou as costas, indiferente à mão trémula que o outro lhe estendeu, e saímos em direcção a King's Pyland.

- Raras vezes encontrei um conjunto tão perfeito de ameaças, cobardia e gatunagem como em mestre Brown - observou Holmes.

- É então ele quem tem o cavalo?

- A princípio quis esquivar-se com brincadeiras, mas eu fiz uma descrição tão real do que se tinha passado que o homem acabou por se convencer de que eu assistira a tudo. Com certeza que notou, Watson, a forma quadrada das pegadas e que as botas dele correspondiam exactamente. Além disso, é evidente que se trata de um gesto que um criado não se atreveria a fazer. Depois lembrei-lhe que, conforme era seu hábito, ele fora o primeiro a levantar-se e a dar por aquele cavalo desconhecido errando pela charneca; contei-lhe, com pormenores, como ele se acercara do animal e do seu espanto ao reconhecer a malha branca na testa que dera o nome ao favorito.





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