»“- Eu estava a ferver a água quando adormeci, senhor.”
»Olhou para mim e depois para a campainha que continuava a tinir; no seu rosto estampava-se um espanto crescente.
»“- Se o senhor está aqui, quem estará a tocar a campainha?” - perguntou.
»“- Que campainha?” - perguntei-lhe.
»“- A da sala onde o senhor está a trabalhar.”
»Tive a sensação de que uma mão gelada me apertava o coração. Alguém estava na sala onde, sobre uma mesa, jazia o meu trabalho. Corri como louco pela escada acima e ao longo do corredor. Ninguém no corredor, Sr. Holmes. Ninguém na sala. Estava tudo exactamente como eu deixara, excepto os documentos deixados ao meu cuidado, que haviam desaparecido de cima da mesa. A cópia estava lá, mas o original...
Holmes levantou-se e esfregou as mãos. Reparei que dominava já o assunto.
- E o que é que o senhor fez, então? - murmurou.
- Deduzi num instante que o ladrão tinha utilizado a escada da porta lateral. Se tivesse vindo pelo outro caminho, tê-lo-ia encontrado.
- O senhor convenceu-se de que ele não se poderia ter ocultado dentro da sala ou até no corredor, que descreveu como fracamente iluminado?
- Era absolutamente impossível. Nem um rato se poderia esconder na sala ou no corredor. Não há nenhum sítio que possa servir de esconderijo.
- Muito obrigado. Continue, por favor.
- O contínuo, notando pela palidez do meu rosto que se passava algo de muito grave, seguiu-me escada acima. Corremos ambos pelo corredor e descemos a escada a pique que dá para a Charles Street. A porta da rua estava fechada mas destrancada. Abrimo-la e saímos.
Lembro-me ainda muito bem de que o sino de uma igreja vizinha dava, nesse momento, três badaladas.