- O portão estava fechado, sem dúvida - exclamou Phelps.
- Estava, mas eu tenho um gosto especial por estas andanças. Escolhi o sítio dos três pinheiros e, atrás desse esconderijo natural, dominava tudo sem a menor probabilidade de ser visto donde quer que fosse. Depois, agachei-me entre os arbustos e fui-me arrastando de uns para os outros, como se pode ver pelo estado lastimável dos joelhos das minhas calças, até alcançar a moita de rododendros que fica mesmo em frente da sua janela. Uma vez aí chegado, acocorei-me e esperei pelos acontecimentos.
A cortina do seu quarto não estava ainda corrida, de modo que podia ver Miss Harrison sentada à mesa, a ler. Eram dez e um quarto quando ela fechou o livro, fechou a persiana e se retirou. Ouvi-a fechar a porta e, pelo som, fiquei seguro de que havia dado volta à chave.
- À chave! - exclamou Phelps.
- Exactamente. Eu dera instruções a Miss Harrison para trancar a porta e levar a chave consigo quando se fosse deitar. Ela executou à risca todas as minhas recomendações e pode ficar certo de que, sem a sua cooperação, o senhor não teria agora esses papéis no bolso. A sua noiva apagou a luz e eu deixei-me ficar no meu esconderijo, na moita.
A vigília era fatigante, apesar de a noite estar linda. Eu sentia aquela espécie de nervosismo que os caçadores devem sentir quando esperam, junto dos cursos de água, que a sua presa vá beber. Passou imenso tempo.