Aquela recomendação, com a apreciação exagerada das minhas capacidades, foi, Watson, se me quiser crer, a principal coisa que me fez sentir que uma profissão podia nascer do que tinha sido, até ali, uma simples mania. Entretanto, eu estava no momento tão preocupado com o estado do meu anfitrião que não podia pensar em mais nada.
«- Espero que não lhe tenha dito nada que o ofendesse» - disse.
«- Não há dúvida que tocou no meu ponto fraco. Posso saber como é que o senhor sabe, e quanto sabe?»
Falava agora em tom de brincadeira, mas uma sombra de terror ocultava-se ainda no fundo dos seus olhos.
«- É muito simples» - respondi. «- Quando ergueu o braço para arrastar aquele peixe para dentro do barco, vi que as letras J. A. tinham sido tatuadas na curva do cotovelo. As letras estavam ainda legíveis. Mas era perfeitamente claro, pela sua aparência manchada e pela maceração da pele em volta delas, que se tinham feito esforços para as apagar. Era claro, portanto, que essas iniciais lhe tinham sido muito queridas e que depois as quis esquecer.»
«- Que olho que o senhor tem!» - gritou, com um sorriso de alívio. «- É exactamente como o senhor diz. Porém não falemos mais nisso. De todos os fantasmas, os dos nossos velhos amores são os piores. Venham à sala de bilhar para fumar um charuto em sossego.»
Desde esse dia, apesar de toda a cordialidade, havia sempre uma leve suspeita em relação a mim nas maneiras de Sr. Trevor. Até o filho o notou:
«- Você impressionou tanto o meu pai - disse-me ele - que nunca mais terá a certeza do que você sabe e do que não sabe.»
Não queria mostrar as suas suspeitas, mas obcecavam-no de tal maneira que se revelavam em cada uma das suas acções.