Finalmente, convenci-me de que lhe estava a causar preocupações e pus fim à minha visita. Entretanto, no dia da minha partida, um pouco antes de deixá-los, ocorreu um incidente que, por causa do que se seguiu, mostrou ser de grande importância.
Nós os três estávamos sentados sobre a relva nas cadeiras de jardim, a desfrutar o calor do Sol e a admirar a paisagem através dos Broads, quando a criada veio dizer que estava à porta um homem que queria ver Sr. Trevor.
«- Como se chama?» - perguntou o meu anfitrião.
«- Não me quis dizer.
«- Que quer então?
«- Diz que conhece o senhor e queria apenas conversar um momento.
«- Mande-o vir aqui.»
Um instante depois apareceu uma criaturinha magra, com maneiras estranhas e um modo de andar arrastando os pés. Usava um casaco aberto, com uma mancha de alcatrão na manga, camisa de xadrez vermelho e preto, calças de lã e pesadas botas terrivelmente gastas. O rosto era magro, moreno e malicioso, ostentando um perpétuo sorriso que mostrava uma linha irregular de dentes amarelos, e as mãos enrugadas estavam meio fechadas naquele gesto característico dos marinheiros. Quando entrou, curvado, no jardim, ouvi Trevor soltar uma espécie de soluço gutural e, pulando da cadeira, correu para dentro de casa. Voltou um instante depois e senti-lhe o cheiro forte do licor quando passou por mim.
«- Bem, meu homem, o que posso fazer por si?»
O marinheiro olhou para ele com olhos injectados e com o mesmo sorriso irónico nos lábios.
«- O senhor não me conhecer» - perguntou.
«- Sem dúvida! Agora vejo que é o Hudson, com certeza» - disse Sr. Trevor, em tom de espanto.
«- É o Hudson, sim senhor. Ora, faz mais de trinta anos desde que o vi pela última vez.
