«- Meu pai fê-lo jardineiro - disse o meu companheiro -, e então, como isso não o contentasse, promoveu-o a mordomo. A casa parecia estar à sua mercê, andava por toda a parte e fazia o que queria. As criadas queixavam-se dos seus hábitos de ébrio e da sua linguagem vil. O pai aumentou o salário de todos para compensá-los do incómodo. O malandro queria o barco e a melhor espingarda de meu pai para se ocupar com pequenas festas de tiro ao alvo. E tudo isso com uma cara tão zombeteira, tão maliciosa, que eu o teria espancado vinte vezes se fosse um homem da minha idade. Afirmo-lhe, Holmes, que tive de me dominar constantemente, e agora pergunto a mim próprio se não deveria ter ido um pouco mais longe.
Bem, o assunto foi de mal a pior e Hudson, esse animal, tornou-se cada vez mais intruso, até que um dia, dando uma resposta insolente a meu pai, na minha presença, agarrei-o pelo ombro e expulsei-o da sala. Fugiu de esguelha com uma cara lívida e com os olhos venenosos que proferiam mais ameaças do que a sua própria boca. Não sei o que se passou entre o meu pobre pai e ele depois disso. Mas meu pai procurou-me no dia seguinte e perguntou-me se eu não queria pedir desculpas a Hudson. Recusei, como deve imaginar, e perguntei a meu pai como podia ele admitir que semelhante homem tomasse tais liberdades com ele e com a sua família.
'- Ah! meu filho, é muito fácil falar, mas não sabe da minha posição. Mas há-de saber, Vítor! Providenciarei para que saiba, haja o que houver! Não quereria a ruína do seu pobre pai, pois não?' - Ficou muito comovido e fechou-se no escritório todo o dia, onde pude vê-lo pela janela, a escrever rapidamente.
«Nessa noite aconteceu o que parecia ser um grande alívio, Hudson disse que nos ia deixar.