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Agora que conhecíamos o móbil secreto de todos os actos de Gomez, pudemos refrescar as nossas lembranças e recordar-nos de certos factos cuja concordância deveria ter-nos, evidentemente, perturbado: o seu desejo constante de conhecer os nossos planos, a maneira como escutava à porta da tenda quando foi surpreendido, aquela espécie de ódio no olhar que todos tínhamos, mais ou menos, notado ... Encontrávamo-nos ainda a discutir o caso e a esforçar-nos por adaptar os espíritos à nova situação, quando uma cena estranha na planície atraiu as nossas atenções para a berma.
Um homem vestido de branco, que apenas podia ser o mestiço a quem Lorde John poupara a vida, corria desesperadamente como corre alguém quando a Morte se lhe lança no encalço. Atrás-dele, a alguns metros, emergiu a enorme silhueta de ébano de Zambo, o nosso criado negro tão devotado que depressa alcançou o fugitivo, passou-lhe os braços em redor do pescoço e ambos rolaram por terra. Um instante mais tarde, Zambo tornou a levantar-se, lançou um olhar ao adversário caído no chão e, depois, agitando alegremente uma mão na nossa direcção, correu para nós. A forma branca deixara de mexer-se no meio da planície imensa.
Os dois traidores haviam sido postos fora de combate e não mais podiam prejudicar-nos. Infelizmente a sua traição subsistia! Não tínhamos agora qualquer meio de regressar ao pico. Foram os habitantes do mundo; agora eramos os indígenas do planalto. O mundo e o planalto formavam duas coisas à parte, distintas. Abaixo de nós estendia-se a planície que conduzia às nossas embarcações. Mais longe, para lá do horizonte nimbado de bruma violácea, corna o rio que nos teria devolvido à civilização.