Um Estudo em Escarlate - Cap. 2: 2 - A Ciência da Dedução Pág. 13 / 127

Preparava-me para lhe perguntar que trabalho seria esse, mas qualquer coisa no seu comportamento fez-me compreender que a pergunta não seria bem acolhida. Todavia, meditei sobre esta nossa conversa e tentei tirar daí as minhas conclusões. Disse que não adquiriria conhecimentos que não estivessem relacionados com os seus objectivos. Assim, todos os conhecimentos que possuía seriam os que lhe fossem úteis. Mentalmente enumerei os vários pontos sobre os quais ele me revelara estar excepcionalmente bem documentado. Até peguei num lápis e tomei nota deles. Não pude deixar de sorrir do documento quando o terminei. Tinha a seguinte disposição:

Sherlock Holmes - os seus limites:

1. Conhecimento de Literatura: Zero

2. Conhecimento de Filosofia: Zero

3. Conhecimento de Astrologia: Zero

4. Conhecimento de Política: Fraco

5. Conhecimento de Botânica: Variável. Versado, de uma maneira geral, em beladona, ópio e venenos. Não sabe nada de jardinagem prática.

6. Conhecimento de Geologia: Experimentado, mas limitado. Diz imediatamente a diferença entre os solos. Depois dos passeios mostrou-me manchas nas calças, e pela cor e pela consistência disse-me em que parte de Londres as apanhara.

7. Conhecimento de Química: Profundo.

8. Conhecimento de Anatomia: Preciso, mas irregular.

9. Conhecimento de Literatura Sensacionalista: Vasto.

Parece conhecer todos os detalhes de todas as barbaridades perpetradas neste século.

10. Toca bem violino.

11. É um esgrimista e pugilista exímio.

12. Tem um bom conhecimento da jurisprudência britânica.

Quando tinha chegado a este ponto da minha lista, atirei-a para a lareira, desesperado. «Se consigo apenas descobrir as intenções do indivíduo ao conciliar todos estes dotes e ao encontrar uma profissão que exige todos eles», disse para comigo mesmo, «bem posso desistir já da tentativa».

Vejo que já fiz referência à sua destreza no violino. Esta era surpreendente, mas tão excêntrica como todos os outros dotes.