O Retrato de Ricardina - Cap. 7: CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS Pág. 44 / 178

- É assim ou não é? - repisou o pai. - O que a tua mãe quer é ser sogra do filho do Silvestre da Fonte?

- Não se fala em tal coisa, meu pai.

- Não se fala? Então em que se fala? Porque se meteu aqui tua mãe?

- A mim não me conta os segredos da sua alma. Diz que me tem muito amor, e quer morrer ao meu lado.

- Faz muito bem - concluiu o abade, e saiu mal seguro nas pernas, que vergavam sob o peso da ira.

Da casa hospedeira escreveu a D. Clementina. A má índole reluzia de entre contrafeitas expressões de estima. Atraiçoava-se a cada frase. O filho do Silvestre da Fonte dava-lhe os realces do estilo sarcástico. Arguia a fugitiva senhora de má filha e má mãe. Que mais ervada injúria podia expedir-lhe ao coração a proterva alma do padre? Concluída a leitura, D. Clementina queimou a carta, dizendo à filha:

- É coisa que não podes ler, menina. Manda dizer que responderei, quando Deus me der força.

Desenganou-se o padre. Os parentes louvaram-lhe notavelmente a sua prudência e honestidade quando o viram partir, limitando-se a vociferar maldições à filha, que lhe pervertera o coração da mãe. Seria ridículo, se não fosse ignóbil, o sedutor da pura e formosa Clementina Pimentel.





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