Clementina Pimentel, ilustremente aparentada naquela terra.
Reduziu-se algum tanto o abade, assediado de cavalheiros e senhoras, suas primas, às quais prometeu portar-se de modo adequado ao seu nascimento e estado. Levaram-no pelos brios jerárquicos. A noite desvelou-a, cansado de espírito e macerado de corpo, resultas do muito que chutara no macho por aquelas penhascosas nove léguas da sua casa a Lamego.
Sol nado, saiu do quarto furtivamente e encaminhou-se ao Convento das Chagas. Esperou que se abrissem as portas, e anunciou-se a sua filha. Conduziram-no ao locutório, onde já o esperava Ricardina. Algumas memórias rezam que o padre Botelho de Queirós chorara, quando viu a filha. Duvida a minha ciência experimental do coração humano. Dê-se, porém, de barato que chorasse. O que pertence aos factos averiguados desta história é que o abade perguntou à filha:
- A tua mãe?
- Está doente.
- Quero vê-la.
- Está de cama com febre desde que entrou; mas, se o pai quer, digo-lhe que...
- Preciso falar-lhe - concluiu o pai.
Saiu a noviça e voltou com a resposta:
- A mãe não pode erguer-se; e pede ao pai que a não procure mais.
- Disse-te isso tua mãe?
- Sim, senhor.
- Pois diz-lhe que eu vou mandar a sege dos meus primos buscá-la; que, se está doente, é melhor tratar-se cá fora.
- A mãe não pode ir, meu pai. O meu dever é evitar que ela se aflija mais do que está. Perdoe-me, por quem é; que eu esse recado não lho levo.
- Conluiou-se contigo? - bradou o padre. - Estão vocês apostadas a dar cabo de mim? Pois enganam-se... Lá tenho uma filha a quem amar muito e dar tudo que tenho.
- Aqui pouco nos basta - replicou Ricardina. - Seja minha irmã feliz.
- Então tua mãe sairia do convento - redarguiu ironicamente o abade - se eu te deixasse casar com o Bernardo? Responde a isso!
Ricardina abaixou os olhos, e cobriu duas lágrimas com as pestanudas pálpebras.