Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS

Página 43
Clementina Pimentel, ilustremente aparentada naquela terra.

Reduziu-se algum tanto o abade, assediado de cavalheiros e senhoras, suas primas, às quais prometeu portar-se de modo adequado ao seu nascimento e estado. Levaram-no pelos brios jerárquicos. A noite desvelou-a, cansado de espírito e macerado de corpo, resultas do muito que chutara no macho por aquelas penhascosas nove léguas da sua casa a Lamego.

Sol nado, saiu do quarto furtivamente e encaminhou-se ao Convento das Chagas. Esperou que se abrissem as portas, e anunciou-se a sua filha. Conduziram-no ao locutório, onde já o esperava Ricardina. Algumas memórias rezam que o padre Botelho de Queirós chorara, quando viu a filha. Duvida a minha ciência experimental do coração humano. Dê-se, porém, de barato que chorasse. O que pertence aos factos averiguados desta história é que o abade perguntou à filha:

- A tua mãe?

- Está doente.

- Quero vê-la.

- Está de cama com febre desde que entrou; mas, se o pai quer, digo-lhe que...

- Preciso falar-lhe - concluiu o pai.

Saiu a noviça e voltou com a resposta:

- A mãe não pode erguer-se; e pede ao pai que a não procure mais.

- Disse-te isso tua mãe?

- Sim, senhor.

- Pois diz-lhe que eu vou mandar a sege dos meus primos buscá-la; que, se está doente, é melhor tratar-se cá fora.

- A mãe não pode ir, meu pai. O meu dever é evitar que ela se aflija mais do que está. Perdoe-me, por quem é; que eu esse recado não lho levo.

- Conluiou-se contigo? - bradou o padre. - Estão vocês apostadas a dar cabo de mim? Pois enganam-se... Lá tenho uma filha a quem amar muito e dar tudo que tenho.

- Aqui pouco nos basta - replicou Ricardina. - Seja minha irmã feliz.

- Então tua mãe sairia do convento - redarguiu ironicamente o abade - se eu te deixasse casar com o Bernardo? Responde a isso!

Ricardina abaixou os olhos, e cobriu duas lágrimas com as pestanudas pálpebras.

<< Página Anterior

pág. 43 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 43

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177