O Retrato de Ricardina - Cap. 10: CAPÍTULO X - A SORTE Pág. 65 / 178

Lá vou expiar a leviandade de me intrometer na política, já quando tinha toda a minha inteligência e afetos empregados no santo amor daquele anjo! Prevariquei levado pelas torrentes. Agora, serei assassino, visto que a dignidade e bravura dos nossos irmãos políticos se quer assim recomendar à posteridade. Deixo-me ir acorrentado para uma infâmia que nunca nos será perdoada, ainda mesmo que as nossas cabeças passadas do cadafalso a um espeque fiquem pedindo caridade e misericórdia aos juízos dos vindouros.

- Que estás aí fabulando cadafalsos! - interrompeu o médico.

- É que eu insisto na pior das hipóteses. Os cadafalsos vêm aí...

- Vêm?

- Pois vocês não ouvem já o ranger das rodas que tecem as cordas de esparto? Vão às masmorras, se querem ver os carrascos já arremangados, para subirem ao tablado. Isto é coisa clara. Os cadafalsos vêm. E se eles não servirem para os assassinos políticos, onde estão vítimas mais beneméritas? O feito que vamos praticar será dos reservados no livro V para castigo de outro mundo?

- Mas que doidos serão vocês, treze homens, se se entregarem aos quadrilheiros!... - redarguiu Francisco Moniz.

- Tens razão - sorriu Bernardo - , treze homens não se deixam assim agarrar, quando a Providência não vai atrás deles.

- Dizes bem - interveio o teólogo - , dizes bem. Bernardo... Se a Providência Divina não for atrás deles.





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