- Que é que te repugna? - insistiu Francisco Moniz - , é matar? Não mates. Vocês são treze. Dois tiros matam dois homens. Outros dois tiros assustam os deputados, catedráticos, que não foram votados à morte. Restam nove homens para conter em respeito os caleceiros. Porque não hás de pertencer aos nove da missão incruenta? Deixa-me sorrir, que não é muito para chorar o caso. Além de que vocês vão mascarados com lenços. Quem há de conhecê-los? Se não entrever desastre imprevisto, espero que vocês entrem cada um na sua casa desassombradamente.
Reanimava-se Bernardo ao compasso das confortadoras e algum tanto facetas razões do médico. O teólogo permanecia triste, cabisbaixo, e sempre enxugando choro, às ocultas do irmão.
- Bem! - disse reanimado o jovem. - Lembraste, Francisco; a intervenção possível de um desastre.
- Sim.
- Conjeturemos que se realiza a péssima hipótese.
- De que modo?
- Que eu sou morto, ou me expatrio para não ir ao patíbulo dos sócios de Gomes Freire.
- Que pessimista!
- Supondo. Vamos conversar tranquilamente. Morto ou fugitivo, deixo ali Ricardina. Que lhe fareis?
- Diz-nos a tua vontade, se queres que persistamos na hipótese péssima.
- A minha vontade...
Demorou-se na resposta, porque os soluços o embargaram.
- A tua vontade - prosseguiu o médico - é que ela volte para um mosteiro?
- Não.
- Pois quê?
- Que digam ao meu pai e a toda a gente que ela era minha esposa clandestina. Se for necessário, falsificareis uma certidão de casamento; dareis muito dinheiro a um vigário que a passe. Isto é possível, meus bons amigos? É possível? - clamava ele, abraçando-os.
- É - responderam simultaneamente os irmãos. - Ricardina irá para nossa casa.
- Respiro, meus irmãos! Agora, perdoai-me as lágrimas e absolvei-me da fraqueza.