O Retrato de Ricardina - Cap. 12: CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS Pág. 79 / 178

- Agora, guiai os meus passos, minha santa mãe! - disse entre si levantando ao céu os olhos orvalhados de doces lágrimas.

Meditou sobre o caminho de casa mais desempeçado de perigos. Era-lhe já aprazível a vida e a segurança. Temia-se de encontrar povo, que o suspeitasse, e perseguisse. Confiava muito no cavalo, mas receava-se das balas. Aventurou-se com o espírito confiado e enlevado na santa alma da sua mãe. Como a desgraça, a um tempo, escurenta e ilumina este confuso caos da razão! Internou-se num caminho travesso que, ao fim da tarde, o conduziu a Santo António de Cântaro, nove léguas distante de Viseu.

Ao outro dia, por noite, chegou a casa, ladeando as montanhas vizinhas para não passar na estrada próxima da residência abacial. Ouviram os de dentro o tropel de cavalo. Correram Ricardina, os irmãos e o velho ao pátio. O teólogo lançou-se-lhe aos braços, exclamando:

- Perdido?

- Não, salvo.

- Onde está?

- Não sei. Está salvo. Sei tudo quanto queria.

Ricardina, que ouvira o rápido diálogo, lançou-se entre os irmãos, perguntando:

- Ele não veio?

- Há de vir, talvez hoje, talvez amanhã. Está vivo, minha senhora! E estar vivo é tudo.





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