Inferno - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 32 / 102

A fraude, que fere toda a consciência, pode o homem usá-la contra os que nele depositam confiança e contra os que nele se não fiam. Este último modo parece destruir apenas o vínculo de amor estabelecido pela natureza, pelo que têm seu lugar no recinto segundo a hipocrisia, a adulação, a bruxaria, a falsificação, o roubo, a simonia, a rufianice, a trapaça e imundícies similares. Pelo outro modo se esquece o amor que a natureza cria, ao que se junta o que confiança especial inspira, razão por que no círculo menor, onde fica o lugar do mundo em que Dite se situa, todo o traidor se consome durante a eternidade.»

«Mestre», disse eu, «bem claras são tuas razões e bem classificas este abismo e aqueles que o habitam. Mas diz-me: os que estão no pântano lodoso pelo vento batidos e açoitados pela chuva e que com tão acres palavras se entrechocam, porque não são punidos dentro da cidade rubra, se mereceram a ira de Deus? E, se a não suscitaram, porque sofrem tal castigo?» E ele tornou: «Porque se afasta tanto o teu engenho do que lhe é usual? Que outra coisa distrai a tua mente? Não recordas aquelas palavras com que a Ética tua estuda as três disposições que o Céu não deseja: a incontinência, a malícia e a bestialidade insana? Nem como a incontinência menos ofende a Deus e menor é o castigo que suscita? Se atentares bem em tal sentença e lembrares quem são aqueles que mais acima sofrem penitência, entenderás inteiramente por que razão destes rebeldes estão apartados e porque é menos irada a justiça divina que os açoita.»

«Ó Sol que iluminas toda a vista turvada! Tanto me alegro quando me esclareces que, menos que saber, me agrada duvidar. Mas volta ainda um pouco atrás e esclarece-me por que razão a usura para a bondade divina constitui ofensa.»





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